Dias depois de pisar pela primeira vez no Marajó, sobrevoamos a Grande Ilha. Na imagem, vê-se parte do arquipélago, à frente da cidade de Belém, de onde decolamos. Neste tipo de gravação, retira-se a porta lateral da aeronave e, por isso, a experiência é amplificada!
No dia, o sobrevôo foi distinto de gravações aéreas anteriores que fiz, em paisagens urbanas: partindo de Belém, em breve o helicóptero deixou a cidade para alcançar a Baia do Marajó, revelando ao olhar águas sem fim, até avistarmos o território marajoara. Se, da superfície, a paisagem insular impressiona pela vastidão de sua planície, do alto, ela se abre, surpreendentemente no “inverno”, como um gigantesco mosaico de feições: as águas que banham o arquipélago penetram o Marajó adiante, mostrando muitos sinais, então despercebidos por quem caminha na planície da Grande Ilha: antigos e novos caminhos de gente, trilhas de animais, poços, canais e depressões, tudo alagado.
Entre os lugares elevados, percebe-se os aterros artificiais, habitados há muito tempo atrás, por exemplo do Teso dos Bichos, ponto de chegada deste sobrevôo.
Do alto, ao ver uma parte admirável da grandeza do Delta Amazônico, um pensamento surge para mim: de cima, a visão daquela paisagem se desdobra em infinitas imagens, até aterrissar próxima aos objetos que a conformam no tempo; antigos fragmentos de culturas passadas que lá embaixo deixaram tantas marcas, muitas ainda por (re)descobrir; testemunhos físicos que constituem essa grande e potente paisagem humanizada, parte inseparável da Natureza e Ser do lugar.
Texto: Silvio Luiz Cordeiro. Imagens: Wagner Souza e Silva.