Em abril, “inverno” na Ilha do Marajó, a tempestade iminente se anunciava quando estávamos diante do chamado Teso dos Bichos. Decidi gravar imagens do lugar a partir do próprio barco, armei rapidamente o tripé na água e liguei a câmera. Foram poucos segundos de gravação em vídeo antes da chuva despencar sobre nós. Wagner então registrou o instante com um smartphone. O Teso dos Bichos é uma estrutura artificial, construída pela antiga cultura que deixou ali muitos vestígios de sua presença, como restos cerâmicos variados, inclusive de urnas funerárias (que estão entre os mais conhecidos artefatos arqueológicos da Amazônia). Vemos hoje o quanto a dinâmica do tempo e as diversas intervenções humanas — por exemplo das primeiras escavações arqueológicas e da criação de gado, que ali sobe, pisoteando a superfície — erodiram este lugar, outrora habitado muitos séculos atrás. No “verão” marajoara, as águas baixam. Mas no “inverno”, o Teso dos Bichos fica assim, como uma pequena ilha visível na imensa planície inundada do Marajó.
Texto: Silvio Luiz Cordeiro. Imagem: Wagner Souza e Silva.